segunda-feira, 12 de novembro de 2007

Reprimenda papal

Os bispos portugueses deslocaram-se a Roma e ouviram uma forte reprimenda de Bento XVI, pois o diagnóstico do Papa é pouco abonatório da acção da Igreja nacional.
E, por isso, os bispos portugueses escutaram que "só com um novo estilo de organização e com outra mentalidade, Portugal pode ter uma Igreja ao ritmo do Concílio Vaticano II, na qual esteja bem estabelecida a função do clero e do laicado”.
E acrescentou que “à vista da maré crescente de cristãos não praticantes nas vossas dioceses, talvez valha a pena verificardes a eficácia dos percursos de iniciação actuais”.
Note-se que a "maré crescente", nas dioceses portuguesas, de cristãos não-praticantes - os que se afirmam católicos mas não frequentam a missa de domingo, apresenta uma taxa que se situa, actualmente, abaixo dos 25 por cento.
Mas, aquilo que Bento XVI defendeu foi que que o clero português tem de ser mais eficaz na sua organização e na resposta aos anseios das comunidades, por forma a conseguir travar a perda de fiéis e a diminuição constante das vocações.
Parece inquestionável a diminuição da influência da Igreja junto dos portugueses (fenómeno mais recente), já para não falar da dramática redução de vocações que a Igreja sofre há vários anos.
A promiscuidade (cumplicidade?) entre Estado e Igreja, antes de 1974, nunca foi salutar, pelo que a consagração constitucional de Portugal como Estado laico, que consta da Constituição de 1976, com uma clara separação entre Estado e religião, teria de resultar na diminuição da influência da Igreja em Portugal, fenómeno natural no mundo em que Portugal se insere.
Porventura, a influência (quantas vezes coacção) que a Igreja exercia sobre a sociedade era, em tempos idos, sobremaneira contranatura, sendo que a situação que hoje se vive é mais adequada ao papel que uma Igreja ou religião deverão ter.
Isto não significa que não se deva reconhecer o papel relevante que a Igreja tem exercido, em Portugal, a nível social (nomeadamente educacional) e espiritual.
Daí que me pareça demasiado jacobina a ideia da igualdade entre as religiões, pois não me parece sequer comparável o papel da religião católica em relação às outras religiões.
Por outro lado, não consigo vislumbrar como a Igreja vai ter sucesso no combate à redução do número de fiéis e, sobretudo, na dramática falta de vocações.
Parece-me que para inverter este estado de coisas, a Igreja nacional vai ter mesmo de ser muito criativa e, sobretudo, vai precisar de contar com a ajuda de alguém muito especial...