sexta-feira, 16 de novembro de 2007

As linhas com que se cose Macau

O Chefe do Executivo assumiu que teve "pouca capacidade para acompanhar o processo de evolução da sociedade e com antecipação, adoptar medidas eficazes para colmatar problemas".
O inédito mea culpa aconteceu durante a apresentação das Linhas de Acção Governativa (LAG), o momento político mais importante da RAEM, na Assembleia Legislativa local, que decorreu esta semana.
Porém, o Chefe do Executivo mostrou-se confiante no futuro, uma vez que entende que o Governo tem "ainda margem para melhorar a actuação", desde que "saiba aumentar a transparência das políticas através de uma melhor interacção entre o Governo e a população".
Não me parece que o actual Executivo disponha de qualquer margem de manobra, ao contrário do que afirma o responsável máximo da RAEM.
Aliás, a análise dos oito anos que leva já de mandato permitem concluir que não vai ser nos dois anos que restam que o Executivo vai alcançar o que não conseguiu ou não soube ou não quis concretizar antes.
De facto, analisando com atenção as LAG conclui-se que as mesmas não trazem nada de novo e revelam um discurso oficial (muito) gasto e descredibilizado.
É verdade que o Chefe do Executivo anunciou aumentos salariais para os funcionários públicos em 7,2% (para uma inflação que deverá ultrapassar os dois dígitos em 2007...), maiores apoios aos idosos e deficientes, defesa do património cultural, isenções fiscais e maior transparência na governação, nomeadamente através da auscultação da opinião pública, com a criação dos Conselhos Consultivos Comunitários.
Mas será que estas "guloseimas", como alguém lhe chamou, serão suficientes para ultrapassar ou fazer esquecer as deficiências governativas?
Temo que o futuro imediato de Macau se vai desenrolar num ambiente político turvo pela corrupção, pela contínua falta de massa crítica local e de uma elite que possa conduzir com eficácia uma população amorfa e que dificilmente desperta para a discussão da res publica, inebriada que está pelo lucro fácil proporcionado pelo jogo e pelos néons das luzes que iluminam as fachadas dos casinos.