segunda-feira, 17 de setembro de 2007

A democracia é uma miragem

Em Hong Kong, o debate sobre democracia e a eleição por sufrágio directo e universal do Chefe do Executivo (e do Parlamento local) é um tema recorrente e parece cada vez mais redundante.
O tema regressou, agora, aos jornais por causa de um estudo publicado no território vizinho (de Macau) pelo "South China Morning Post", segundo o qual 60% de um grupo de mil empresários e líderes de opinião (??) de Hong Kong defende a eleição em 2012 do próximo líder por sufrágio directo e universal.
Esta sondagem surge a meio do período que o próprio governo de Hong Kong estabeleceu para a discussão pública do seu documento para implementar reformas democráticas na antiga colónia britânica.
Na minha opinião, este debate encontra-se "inquinado", e para tal basta atentar nas palavras do Presidente chinês Hu Jintao proferidas por altura do juramento de Donald Tsang, como Chefe do Executivo ( aquando do 10º aniversário da transferência de soberania de Hong Kong para a China na visita que, então, efectuou) onde voltou a reafirmar que, de acordo com o princípio "um país, dois sistemas", a autonomia de Hong Kong é conferida pelo Governo central, em Pequim, e dele depende.
Mais afirmou que segundo aquele princípio, a ideia de um país significa que "todos devem apoiar o poder exercido pelo Governo central" e a ideia de dois sistemas significa que " todos devem assegurar o alto grau de autonomia de Hong Kong e apoiar o Chefe do Executivo e o Executivo a exercerem os seus poderes de acordo com o estabelecido na lei"), não podendo uma ideia ser afastada da outra.
Aliás, nessa altura, o n.º 2 do regime chinês, Wu Bangguo, proferiu uma segunda declaração, em menos de um mês, relativa a esta temática, onde reafirmou que o "alto grau de autonomia" de que gozam as regiões administrativas especiais (HK e Macau) têm limites, consagrados na respectivas Lei Básicas.
Perante isto, porque será que fico com ideia de que os dirigentes chineses consideram que estas ideias de democracia e de eleições por sufrágio directo e universal em Hong Kong são meras veleidades dos seus defensores e que se insistirem muito, lá se vai o "alto grau de autonomia"?
Como é possível pensar que as autoridades chinesas, intrinsecamente autoritárias, ditatoriais e controladoras, possam alguma vez tolerar que numa parcela do seu território, possam existir eleições livres, directas e por sufrágio universal?