sexta-feira, 17 de agosto de 2007

Nós e eles

Largo do Leal Senado- centro de Macau

A população de Macau (de origem étnica chinesa), sempre que pode, expressa o seu "amor eterno à Mãe- Pátria" e a sua satisfação e orgulho em afirmar- se chinesa, sentimento mais exarcebado desde a criação da RAEM, com a transferência de soberania de Portugal para a República Popular da China.
Mas, apesar disso, nota- se um (latente) sentimento de "diferença" entre os residentes chineses de Macau e os do "outro lado da fronteira", os seus compatriotas do Continente chinês.
Recentemente, um académico alemão, Werner Breitung, a leccionar na Universidade Sun Yat- sen, de Cantão, deslocou- se a Macau para participar numa conferência, na Universidade local, subordinado ao tema " Cidades e fronteiras- cidades fronteiriças, cidades divididas e fronteiras em cidades" para apresentar os resultados de um estudo por si realizado.
Segundo aquele académico, os residentes de Macau rejeitam a ideia de dispensar a existência de fronteiras (pois, a mim também não me parece boa ideia permitir que "hordas" de chineses vindos do Continente entram sem qualquer tipo de controlo em Macau...).
Afirmou ainda que os fluxos de pessoas (oriundos do Continente) que servem para colmatar a carência de força de trabalho no território provocam alterações na identidade da população de Macau, pois as consequências do crescimento económico da RAEM acabarão por levantar "questões ligadas a diferenças culturais e de identidade".
A razão que está na base deste choque de identidades é o facto das pessoas de Macau se sentirem diferentes das vizinhas do Continente chinês, gerando preconceitos e desentendimentos, sendo que as principais diferenças parecem ser o comportamento, os valores morais e o modo de expressar.
Mas a visão negativa sobre quem mora no Continente não se fica por aqui.
Segundo o docente alemão "há uma tendência para generalizar que são todos criminosos e não sabem como se comportar", o que o levou a comparar este sentimento com o ocorrido em Berlim aquando da queda do muro que dividia a cidade alemã, onde era normal as pessoas terem sentimentos diferentes face às pessoas do lado contrário.
Para o professor da Universidade Sun Yat-sen, grande fatia deste sentimento de identidade das pessoas da RAEM tem que ver com a influência de culturas ocidentais na região: "Os locais vêem-se como diferentes do resto da China em grande parte devido à confluência de culturas que aqui existe", pois " há experiências históricas que provocaram esta diferença de valores entre Macau e o Continente. Embora os chineses não interajam muito com os portugueses, há uma influência muito grande".
A conclusão final do estudo efectuado é que as pessoas da RAEM rejeitam a ideia de eliminar as fronteiras. " (...), as pessoas mostraram-se a favor de cooperação, mas acham que seria uma má ideia se o "muro" à volta de Macau caísse", salientou o docente.
As principais razões que fundamentam tal ideia resultam da crença de que os limites fronteiriços são uma protecção contra a disseminação de doenças e crimes, além da preocupação com a imigração, a perda de identidade, autonomia política e das vantagens económicas.