quarta-feira, 2 de maio de 2007

O 1º de Maio em Macau

A violência regressou às ruas de Macau na manifestação realizada ontem a propósito do 1º de Maio.
Os organizadores da manifestação tinham apresentado um itinerário para desfilar que foi recusado pela Polícia (decisão pouco sensata e juridicamente injustificável), nomeadamente a passagem pela rua que atravessa a zona central de Macau, a "Almeida Ribeiro".
Posteriormente, aqueles organizadores afirmaram que iriam manter o desfile pela rua por onde pretendiam desfilar, não apenas uma vez (conforme constava do trajecto "chumbado" pelas autoridades) mas duas vezes, por causa da proibição, em clara provocação e desrespeito pela lei.
As forças da autoridade estiveram bem em fazer cumprir a ordem pública e a lei.
O desagrado ou a discordância com as políticas do Executivo não justificam a atitude dos organizadores da manifestação nos dias anteriores à mesma e o comportamento provocatório de certos participantes.
Ou não foi provocação o desrespeito ocorrido quando o desfile passava defronte do local onde se realizavam as cerimónias fúnebres do irmão do Chefe do Executivo?
O "segundo sistema" (herança dos portugueses) consagrado na Lei Básica permite a liberdade de manifestação e de expressão, mas isso não deve ser confundido com anarquia e desrespeito pela lei. E isso é o que os demagogos e os populistas da "oposição" melhor sabem fazer.
Ainda, recentemente, os deputados "democratas", Ng Kuok Cheong e Au Kam San, decidiram efectuar uma recolha de assinaturas em pleno Leal Senado, cujo local foi recusado pela Administração (o Instituto para os Assuntos Cívicos e Municipais).
Embora não se entenda a recusa, aqueles deputados, em claro desrespeito, decidiram manter o seu propósito e procederam à dita recolha de assinaturas no local que pretendiam. Não me consta que tenha havido por parte das autoridades qualquer atitude de fazer cumprir a lei.
O que é lamentável. Porque a Administração se demitiu da sua obrigação de fazer cumprir a lei e os deputados porque, irresponsavelmente, deram um mau exemplo, na medida em que se não concordavam com a decisão podiam recorrer judicialmente da mesma.
Ou os deputados não acreditam no sistema judicial de Macau?
Mas voltando a comentar a manifestação de ontem, já não me parece compatível com o direito à manifestação consagrado na lei, o facto de a Polícia ter separado (!!) os manifestantes em vários grupos. A Polícia deve limitar-se a garantir a ordem e a segurança, quer dos manifestantes, quer dos outros residentes e dos seus bens e, nesta situação, excedeu-se.
"The last but not the least", uma nota acerca dos disparos efectuados por um agente policial. Ouvidas as explicações oficiais, fica-se com a sensação de, efectivamente, se estar perante uma manifesta situação de abuso de autoridade. Justificar os disparos (cinco ou seis tiros, depende das versões, disparados para o ar) com a necessidade de proteger uma idosa e uma senhora de meia- idade da multidão parece algo excessivo, não?
Curiosamente (ou não?), os chineses, nascidos em Macau, parecem criticar a forma como decorreu a manifestação. Acham que os responsáveis são as pessoas que vivem em Macau mas provenientes do Continente chinês e que provocam estas situações de violência. Dizem eles, que as pessoas de Macau (nascidos cá) são pacatas e não "alinham" em manifestações.
De facto, a realidade em Macau não pará de surpreender e de mudar. O crescimento desenfreado dos últimos anos, além de ter enchido (bem) os bolsos de alguns (poucos) parece querer acabar com a passividade que por aqui existia.
E a elite no poder ( a chinesa e a macaense) está a deparar-se com uma realidade, até agora desconhecida para si, que reinvindica, que é demagoga e que critica de forma clara.
E como não estavam habituados, não sabem como reagir!
Ou será que sabem? Aos tiros?!
Está posto em causa um valor que o Chefe do Executivo tanto preza e que considera essencial: a harmonia e o consenso.
Como será daqui para a frente?