quarta-feira, 23 de maio de 2007

Bufos

Um professor de inglês, que trabalhava há quase 20 anos na Direcção Regional de Educação do Norte (DREN), foi suspenso de funções por ter feito um comentário – que a directora regional, Margarida Moreira, apelidou de insulto – à licenciatura do primeiro-ministro, José Sócrates.
Por isso, decidiu instaurar um processo disciplinar ao professor Fernando Charrua e decretou a sua suspensão. "Os funcionários públicos, que prestam serviços públicos, têm de estar acima de muitas coisas. O sr. primeiro-ministro é o primeiro-ministro de Portugal", disse a directora regional, que evitou pormenores por o processo se encontrar em segredo disciplinar.
Numa carta enviada a diversas escolas, Fernando Charrua agradece "a compreensão, simpatia e amizade" dos profissionais com quem lidou ao longo de 19 anos de serviço na DREN (interrompidos apenas por um mandato de deputado do PSD na Assembleia da República) e conta também o seu afastamento: "Transcreve-se um comentário jocoso feito por mim, dentro de um gabinete a um "colega" e retirado do anedotário nacional do caso Sócrates/Independente, pinta-se, maldosamente, de insulto, leva-se à directora regional de Educação do Norte, bloqueia-se devidamente o computador pessoal do serviço e, em fogo vivo, e a seco, surge o resultado: "Suspendo-o preventivamente, instauro-lhe processo disciplinar, participo ao Ministério Público"".
Neste momento, Fernando Charrua já não está suspenso. Depois da interposição de uma providência cautelar para anular a suspensão preventiva e antes da decisão do tribunal, o ministério decidiu pôr fim à sua requisição na DREN.
Parece que, actualmente, em Portugal começa a ser necessário ter cuidado na escolha das pessoas com quem se pode livremente fazer comentários, seja sobre o que for.
Alegadamente, os bufos terão acabado em 1974, mas lá que eles continuam por aí, continuam!
E mal, esteve o secretário de Estado Adjunto da Educação ao afirmar que a tutela " não tem nada de esclarecer", pois a ser verdade o caso que aqui se relata e que tudo se passou no interior de um gabinete, a atitude da directora regional parece constituir um insulto à educação, mas também à liberdade.