terça-feira, 23 de outubro de 2007

A transição

"Vou dizer uma coisa com toda a clareza que talvez não devesse dizer: acho que em Portugal são feitas de forma exagerada. Eu próprio tenho muitas dúvidas de que não tenha telefones sob escuta. Às vezes faz uns barulhos esquisitos".

"Tenho profundas dúvidas sobre essa proibição (da publicação das escutas telefónicas). É a dúvida entre aquilo que se pode chamar a defesa do interesse público e a defesa do cidadão".

"O Ministério Público é um poder feudal neste momento. Há o conde, o visconde, a marquesa e o duque".

Estes são extractos das declarações prestadas pelo Procurador-Geral da República, Pinto Monteiro, ao semanário "Sol".
Declarações que, concerteza, não se devem à ingenuidade, falta de experiência ou leviandade do Procurador no contacto com os jornalistas.
Mas que são demasiado graves para serem verdadeiras.
As escutas telefónicas continuam a representar um autêntico "saque" à privacidade dos cidadãos e sobre as quais ninguém tem controle sobre como são efectuadas.
E, assim, mais vale assobiar para o lado e estar atento aos ruídos esquisitos dos telefones.
Quanto à referência do poder feudal (que existirá no Ministério Público), ela parece significar que Pinto Monteiro quer liderar a entrada do Ministério Público na "idade moderna".
Mas convém recordar que os historiadores não se entendem sobre qual o evento mais importante para o fim do feudalismo.
A tomada de Constantinopla pelos otomanos?
A conquista de Ceuta pelos portugueses?
A viagem de Colombo à América?
Ou a descoberta do caminho marítimo para a India de Vasco da Gama?
Numa coisa, os historiadores estão de acordo.
A idade moderna é considerada, por excelência, uma época de transição.