domingo, 16 de março de 2008

A ocupação do Tibete

Algumas cidades do Tibete, e em especial a sua capital Lhasa, têm vindo a ser palco de manifestações de monges tibetanos (com apoio da população civil), as mais intensas desde há 20 anos (em 1989, Pequim teve de impor a lei marcial para pôr fim a 3 dias de protestos).
As manifestações, que terão já provocado mortos, feridos e a destruição de bens pertencentes a cidadãos chineses, têm sido reprimidas pela polícia chinesa.
Pequim acusa o Dalai Lama de ter premeditado e organizado as manifestações, o que o líder religioso rejeita.
Até aqui nada de novo.
Mas, as autoridades chinesas encontram-se numa situação muito delicada.
Qualquer tentativa de contestação ao controle do Tibete por parte da China tem de ser rápida e eficazmente reprimida, mas por outro lado, a 5 meses do início dos Jogos Olímpicos, Pequim não se pode arriscar a que a acusem de violação dos direitos humanos.
Dilema que os tibetanos irão, naturalmente, aproveitar.
Espera-se é que os meios utilizados, para contestar a soberania chinesa sobre o Tibete, sejam conformes com aquilo que os monges pregam.
Sem violência.

Mas, isto não significa qualquer tipo de compreensão pela política chinesa em relação ao Tibete.
A China invadiu ilegalmente este antigo reino (em 1950), tornando-o, mais tarde, em região autonóma no ano de 1965, iniciando, desde então, um genocídio cultural, reprimindo qualquer veleidade independentista e manipulando a liderança religiosa (como faz com o Panchen Lama, n.º 2 da hierarquia religiosa tibetana e que habitualmente presta vassalagem às autoridades de Pequim e ao Partido Comunista).
Aliás, esta estratégia de controle da religião por parte de Pequim, é igualmente utilizada em relação à Igreja Católica, o que está na causa do diferendo entre a China e o Vaticano.
Por tudo isto, incredulidade e estupefacção são alguns dos sentimentos que sinto quando leio alguns dos textos que escribas locais publicaram em jornais e blogues de Macau sobre a situação no Tibete.
É que o obscurantismo religioso vigente no Tibete anterior à invasão chinesa não pode servir para justificar ou branquear quer a invasão, quer o que a China fez ao longos destes anos de ocupação.
E tão pouco me preocupa, se as manifestações tibetanas (e a sua repressão) embaraçam o poder em Pequim por causa da proximidade dos Jogos Olímpicos.
Apesar de viver em Macau, não deixei de considerar que todas as ditaduras são desprezíveis.
A chinesa também.