segunda-feira, 4 de junho de 2007

Tiananmen: "O movimento de 4 de Junho"

Em chinês ficou conhecido por o “Movimento de 4 de Junho”.
Corria o ano de 1989, e no mês de Abril, ocorreram protestos entre estudantes e a polícia, na sequência do falecimento de Hu Yaobang, antigo secretário- geral do Partido Comunista da China.
Em Janeiro de 1987, Hu tinha “resignado” do cargo que ocupava depois de ter apelado a “reformas rápidas” e manifestado “desprezo pelos excessos maoístas”.
Por isso, foi o bode expiatório para Deng Xiaoping quando ocorreram os protestos estudantis pró- democracia em 1986-1987, tendo sido sujeito a um humilhante processo de auto- censura que conduziu à sua “resignação”.
No funeral de Hu, os estudantes juntaram-se na Praça de Tiananmen, em Pequim, e tentaram encontrar- se, sem sucesso, com o primeiro- ministro Li Peng (considerado o grande rival político de Hu).
Os estudantes apelaram, então, a greves nas universidades de Pequim, mas a resposta das autoridades, através de um editorial publicado no jornal oficial “Diário do Povo”, foi no sentido de os classificar como “pequenos sectores de extremistas oportunistas”.
A reacção dos estudantes traduziu-se na realização de reuniões que juntaram cerca de 50 000 estudantes onde estes, já com o apoio de professores e outros intelectuais, exigiram que as autoridades se retratassem das acusações efectuadas.
Gradualmente, as exigências iniciais dos estudantes evoluiram de protestos contra a corrupção para exigências de liberdade de expressão e do fim do papel pioneiro do Partido Comunista e de Deng na China.
E o protesto dos estudantes começou a espalhar-se a outros grupos sociais e a outras cidades chinesas.
Em meados de Maio, grupos de estudantes ocuparam a Praça de Tiananmen exigindo ao governo que retirasse os insultos publicados no editorial do “Diário do Povo” e desse início a conversações com os seus representantes.
Os protestos, embora ordeiros, começaram a generalizar-se com a chegada de outros estudantes vindos de diversas zonas do país.
Nessa altura, o movimento estudantil empreendeu uma forma de luta mais radical dando início a uma greve de fome que abrangeu “mais do que mil pessoas”, como forma de mostrar à população que os estudantes estavam dispostos a tudo, inclusivé a sacrificar a sua própria vida, pela China.



A 19 de Maio, o então secretário- geral do Partido, Zhao Ziyang visitou os estudantes em Tiananmen e efectuou um veemente apelo para que estes abandonassem a greve de fome (na foto ao lado, de Zhao, à direita pode ver-se o actual primeiro- ministro Wen Jiabao). Foi a última vez que apareceu em público.
O movimento estudantil no centro da capital chinesa estava a ter uma ampla cobertura mediática pois estava a ocorrer a visita de Estado do presidente soviético Mikhail Gorbachev.
Essa cobertura era extensa e geralmente favorável às exigências dos estudantes, mas pessimista quanto à concretização dos seus objectivos.
A 30 de Maio, uma estátua, representando a “Deusa da Democracia” foi erigida no centro da Praça.
O Comité Permanente do Politburo e os “velhos” do Partido estavam esperançados que as manifestações fossem de pouca duração e que reformas superficiais fossem suficentes para acalmar o movimento.
A confusão e a indecisão no interior do próprio movimento estudantil era também o espelho do que se passava no interior do Partido Comunista.
A Lei Marcial foi decretada a 20 de Maio, mas os militares foram impedidos de entrar em Pequim pelos manifestantes.
E, os protestos prosseguiram. A greve de fome ia já na terceira semana.
Foi, então, que foi decidido o uso da força para reestabelecer a ordem.
O assalto começou às 22:30 de 3 de Junho, com “ fogo indiscriminado” para o interior da Praça, segundo relatos da BBC.
Às 05:40 da manhã do dia 4 de Junho, a situação na Praça de Tiananmen estava resolvida, embora os protestos no resto da China ainda se tenham prolongado por vários dias.
Mortos (2 600?), feridos (30 000?), prisões, purgas, julgamentos sumários, execuções marcaram os tempos que se seguiram.
Zhao Ziyang que se tinha oposto à declaração da lei marcial foi demitido dos seus cargos e mantido em prisão domiciliária até à sua morte que ocorreu em 2005.


A condenação do regime chinês em todo o mundo foi generalizado, mas de pouca dura pois o mercado chinês é vasto.
Em pleno século XXI, o Partido Comunista da China mantém um “firme” controlo sobre o país e o movimento estudantil foi totalmente erradicado.
Os protestos de Tiananmen não marcaram o fim das reformas económicas empreendidas por Deng, desde 1978, o que conduziu ao crescimento económico que dura desde meados dos anos 90 e permitiu ao governo ganhar de novo a confiança da população que entretanto tinha perdido.
As preocupações da juventude (e da própria sociedade?) chinesa estão actualmente mais viradas para temas como o desenvolvimento económico, o nacionalismo e a restauração do prestígio da China nos meios internacionais. A memória do sucedido em Tiananmen na madrugada daquele dia 4 de Junho de 1989 vai concerteza juntar-se à memória da Revolução Cultural no baú das recordações.